Artigo analisa o potencial do Brasil para ser o líder mundial em química da natureza

                                                                       *Renato Endres             

O que é “a química dos renováveis”?  

Existem várias definições do que é a química a partir da transformação de matérias-primas renováveis, todas corretas. Mas é possível reuni-las em dois grandes grupos:

– Produtos químicos gerados somente a partir de matérias-primas renováveis, ou seja, não há alternativa para produção, como, por exemplo, o breu (colofônia) e a terebintina, produzidos a partir da goma-resina extraída do pinus. Outro exemplo é o glutamato monossódico produzido a partir de uma fonte de açúcar, como o melaço, obtido da cana-de-açúcar.

 – Produtos químicos que podem ser fabricados a partir de matérias-primas alternativas, como o etileno (eteno), que pode ser obtido a partir da nafta ou do gás, derivados do petróleo, e também a partir do álcool etílico (etanol), derivado da cana-de-açúcar ou do milho.

Na produção de químicos com base em matérias-primas renováveis são utilizados principalmente insumos de origem vegetal, como, por exemplo, melaço, celulose, açúcar, plantas diversas e também insumos de origem animal, como o sebo e a gordura da lã.

O Sinproquim, que está elaborando levantamento sobre o tema, já identificou cerca de 80 matérias-primas de origem vegetal e animal. Essas matérias-primas são utilizadas na fabricação de aproximadamente 250 produtos por processo químico ou por extração, considerando produtos até o terceiro grau de agregação na cadeia produtiva. Periodicamente, o Sinproquim divulgará detalhes de produtos químicos gerados a partir de matérias-primas renováveis, cadeias produtivas e aplicações como forma de incentivar avanços nessa área.

O Brasil tem disponibilidade de áreas agricultáveis, condições climáticas favoráveis e uma grande biodiversidade que representam um enorme potencial para a produção de biomassa não alimentar em condições competitivas, sobretudo no momento em que consumidores passam a valorizar produtos de origem renovável.

Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) revelam que o Brasil tem mais de 300 milhões de hectares disponíveis para agricultura, uma área maior do que a dos Estados Unidos, Rússia e China.  O clima favorável e a abundância de água colocam o País na condição de grande gerador de biomassa, o que poderia dar origem a uma produção crescente dentro da química do futuro. O Brasil poderá desempenhar papel de liderança mundial na produção de químicos a partir de matérias-primas renováveis.

A indústria química dispõe de conhecimento para desenvolver a química renovável, desde que haja uma política de governo que possa garantir o fornecimento contínuo de matérias-primas a preços competitivos e financiamento a juros internacionais.

Em 1998, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), que regula e fiscaliza ações de proteção ambiental, estabeleceu 12 princípios para a Química Verde. O princípio número 7 sugere o uso de fontes de matérias-primas renováveis para o desenvolvimento de nova tecnologia e de novos processos, priorizando o uso da biomassa como matéria-prima.

O conceito e as ações de sustentabilidade se inserem cada vez mais no dia a dia das empresas e dos consumidores. Como parte desse processo, a indústria química mundial tem investido em pesquisas e inovações da chamada “Química Verde”, termo que designa as atividades e princípios praticados pelo setor para melhorar a qualidade de vida da população, mediante processos que tenham papel determinante na proteção do meio ambiente, gerando cada vez menos resíduos e subprodutos. 

*Renato Endres é o diretor-executivo do Sinproquim