Presidente e representantes do Sinproquim estiveram no 24º Encontro Anual da Indústria Química, em São Paulo
O Encontro Anual da Indústria Química (Enaiq), realizado no dia 2 de dezembro, no Hotel Unique, em São Paulo, reuniu cerca de 600 participantes, entre executivos da indústria e de outros setores, autoridades do governo, parlamentares, pesquisadores e acadêmicos. O presidente do Sinproquim, Nelson Pereira dos Reis, foi um dos presentes ao Enaiq. Transversalidade, inovação e ação sustentável foram temas que permearam as discussões.
Marcos De Marchi, presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), organizadora do evento, e o secretário do Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação do Ministério da Economia, Caio Megale, abriram o evento. De Marchi destacou que a indústria química brasileira, a sexta maior do mundo, enfrentou desafios incontáveis em 2019, mas ainda assim oferece empregos que pagam o dobro dos salários médios da indústria de transformação no Brasil e está presente nos mais diferentes segmentos industriais, na agricultura e em serviços.
O setor químico, segundo ele, tem se posicionado estrategicamente, defendendo a inserção internacional e uma abertura comercial responsável, respaldada na competitividade da produção local. Apesar das dificuldades e da ociosidade que batem recorde em 2019, vem investindo continuamente para garantir as operações e o desenvolvimento sustentável, bem como manter a indústria química como um dos principais fomentadores da economia brasileira.
Custo Brasil
“Outro futuro é possível. Foi assim que encerramos nosso discurso no ano passado, ao apresentar 73 propostas de estudos que a Abiquim desenvolveu e entregou aos então candidatos à Presidência da República. Passado um ano, posso dizer que estamos esperançosos, mas também temos alguns alertas. O custo Brasil foi recentemente estimado em estudo desenvolvido pelo Boston Consult Group e apresentado ao secretário especial do Ministério da Economia, Carlos da Costa”, disse o presidente da Abiquim.
O estudo, patrocinado pela Abiquim e por outras associações, aponta que o custo Brasil consome das empresas R$ 1,5 trilhão por ano, ou seja, 22% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. Esse sobrecusto foi calculado em relação à média dos mesmos itens nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
“Somos caros ao empregar pessoas, ao honrar tributos, ao nos depararmos com a falta de infraestrutura e ao pagarmos insumos e energia caros. Como sermos competitivos com um custo tão expressivo? É impossível. Esse conjunto causa enorme sobrepeso ao nosso custo, o que permitiu aquela justa analogia: temos uma bola de ferro em cada pé e um piano na cabeça; somos colocados para correr lado a lado contra chineses e outros competidores muito mais leves que nós. É claro que perdemos essa corrida da competitividade. A boa notícia é que esse estudo servirá de base para o Programa Redução Contínua do Custo Brasil, lançado com bastante entusiasmo pelo Ministério da Economia”, comemorou De Marchi.
Para o período de 2019 a 2024, a Abiquim projeta desembolso total de US$ 2,7 bilhões, com quedas anuais e acomodação no nível de US$ 200 a US$ 300 milhões entre 2022 e 2024. O faturamento líquido da indústria química deve encerrar 2019 em R$ 458,9 bilhões, alta de 2%.
De acordo com o presidente da Abiquim, o Brasil precisa, a exemplo dos países fortes em química, adotar um modelo regulatório para gestão segura de substâncias químicas. Esse, inclusive, é pré-requisito para a participação do Brasil à OCDE. A Abiquim desenvolveu uma proposta moderna e adequada à realidade brasileira com base em minucioso estudo de impacto regulatório, feito a partir das melhores práticas internacionais. A proposta deverá ser encaminhada com urgência pelo Executivo ao Congresso Nacional.
Política industrial
Representante do Ministério da Economia, o secretário Caio Megale ressaltou que política industrial nacional não é setorial, não foca um setor específico ou região do país. É, sim, uma política horizontal. “Buscamos criar um ambiente para que floresçam as melhores indústrias no país. A questão tributária, a questão trabalhista e a questão do gás também vão nessa linha de energia de forma geral. O barateamento da energia gera ambiente de produtividade melhor para os setores”, declarou Megale.
O secretário citou três mercados em seu discurso. Além do gás, envolvendo baixo custo de energia, falou de cabotagem e mercado de crédito. O Brasil tem 8 mil quilômetros de costa, com produção em várias regiões, e mercados não necessariamente nessas mesmas regiões, com dificuldade de transporte, tendo de transportar quase tudo por rodovias, cuja maioria não tem boa qualidade. Porém, o programa de concessões vai endereçar essa questão e, para além disso, é preciso desenvolver o mercado de cabotagem. Em resumo: abrir o mercado e aumentar a competitividade.
“Saneamento talvez seja a reforma mais importante. O Brasil tem 50% da sua população sem acesso a água e esgoto. É sabido que a maior produtividade da economia vem da educação básica. É nos primeiros anos de vida das pessoas que se forma a capacidade cognitiva para que seja um trabalhador, um produtor bem treinado e efetivo. Com 50% da população sem saneamento, é praticamente impossível darmos boa atenção aos primeiros anos de vida da maioria da população brasileira. É fundamental a aprovação do novo marco do saneamento no País. São ações em diversas frentes, em diversos mercados, com que procuramos atacar a questão da produtividade”, falou Megale.
Tradição
“O Enaiq é um evento tradicional e um momento importante em que a indústria se reúne, discutindo os temas relevantes do setor, trazendo também a participação de pessoas do governo, tanto do Executivo quanto do Legislativo. Este ano, a questão do gás natural, item extremamente importante para melhorar a competitividade e a produtividade da indústria, foi trazida por diversas apresentações, na direção de que estamos realmente mudando o cenário do gás no Brasil, tornando a oferta mais competitiva. É isso que vai, no curto e médio prazo, redundar em profundas alterações, principalmente na redução de preços”, ressaltou o presidente do Sinproquim, Nelson Pereira dos Reis.
Segundo Reis, também foi importante a apresentação por parte dos representantes do governo federal da agenda de reformas estruturantes que o Brasil está vivendo e que resultarão na retomada mais forte da indústria brasileira, especialmente da indústria química.
Sobre as expectativas da entidade para o próximo ano, Reis as considera positivas. “Não esperamos grandes mudanças, ou grande crescimento, mas o caminho está traçado. Devemos ter recuperação gradual da produção nacional, aumentando a participação no mercado, retomando com mais vigor seu papel. As fábricas estão aumentando a capacidade produtiva. As perspectivas são positivas, nada espetacular, mas consistentes”, ponderou.
Programação
No Enaiq 2019, seis palestrantes abordaram temas econômicos, perspectivas e cenário político, tanto nacional quanto internacional. O economista Carlos Langoni falou das “Perspectivas econômicas para o Brasil à luz do choque de energia”; o deputado federal Alex Manente e o consultor Antônio Umbelino Lobo abordaram o “Cenário político nacional e as ações da Frente Parlamentar da Química”.
Em seguida, a vice-presidente da Abiquim e CEO da Rhodia/Solvay, Daniela Manique, apresentou “A indústria química brasileira em 2019 e perspectivas”; o diretor geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Décio Oddone, falou das “Oportunidades da implementação e perspectivas do novo mercado de gás no Brasil, incluindo uma visão de indústria química”; e o também economista Gesner Oliveira discutiu “A inserção internacional da indústria química”. Finalizando, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, tratou de “Oportunidades de investimento em infraestrutura e na química”.
Exposição
Durante o Enaiq 2019, alguns dos painéis que compõem a exposição “A importância dos produtos químicos para uma vida melhor”, criada pelo Sinproquim, foram expostos.
A mostra da entidade foi concebida com o objetivo de provocar reflexão sobre a relevância dos produtos químicos para o ser humano, que os utiliza desde os tempos mais remotos, destacando como eles são úteis no lar, nas escolas, nas fábricas, nos escritórios, no campo, no lazer e na saúde, além de impulsionar pesquisas e o desenvolvimento de novas soluções. A exposição já foi montada em várias instituições, escolas e empresas de diversos municípios.