Evento explicou sobre a doença, as formas de lidar com ela e como as empresas devem se portar nessas situações
A Organização Internacional do Trabalho afirma que de 20 a 25% dos acidentes de trabalho envolvem pessoas dependentes de álcool ou de outras drogas. Para tratar sobre o assunto, foi realizado um workshop no dia 24 de julho, no auditório do Sinproquim, com apresentações do Doutor Rodrigo Monteiro, especialista em medicina do trabalho, e do Doutor Paulo de Abreu Leme Filho, advogado especializado na área, com mediação do diretor executivo do Sinproquim, Ricardo Neves de Oliveira.
Na abertura do evento, Ricardo ressaltou a importância do tema para todos e principalmente para a área de RH. “Como o trabalho é o local onde a maioria das pessoas passa a maior parte do tempo, a possibilidade de que um descontrole comportamental ocorra é muito grande”, conta ele.
O Doutor Rodrigo Monteiro iniciou o workshop. Antes de apresentar suas especialidades como médico do trabalho, dermatologista, perito judicial, entre outros, ele contou um pouco sobre sua história de vida, que o trouxe até ali para falar sobre dependência química. Rodrigo Monteiro é, como ele diz, um dependente químico em recuperação, pois, segundo o doutor, a dependência química é uma doença progressiva, incurável e fatal. Atualmente a Organização Mundial da Saúde reconhece a dependência como uma doença, para a qual, mesmo sendo incurável, ainda existem diversos tratamentos.
Rodrigo conta que ter um comportamento muito deslocado quando criança o levou a entrar nas drogas; também contribuiu ter encontrado no grupo de pessoas que fumavam maconha, um lugar onde ninguém o julgaria e onde se sentiu aceito. É confirmado que todo dependente químico tem predisposição para o vício, independentemente do tempo de uso. Dos 13 aos 19 anos, o doutor usou todos os tipos de drogas possíveis. Ele acreditava ter controle sobre o vício e continuou estudando, trabalhando e vivendo uma vida aparentemente normal sem perceber que as drogas eram uma recreação. “O auge foi aos 19 anos. Eu já usava todo tipo de droga, fumava crack, saía de casa na sexta e só voltava na quarta, sumia. Aí eu já não tinha mais emprego, não tinha mais escola, minha única função era viver pela droga, mas tive uma oportunidade e o que realmente fez diferença para mim foi a internação”, conta.
Quem conversou sobre o álcool, uma das drogas que mais gera dependentes no mundo, foi o Doutor Paulo de Abreu Leme Filho, advogado especializado na causa e também dependente químico em recuperação. No caso do Doutor Paulo, o álcool foi o seu inimigo – ele começou a beber com 15 anos e intensificou o vício durante a faculdade. Por conta da bebida, ele largou a faculdade de Direito, largou seu trabalho como estagiário e viveu do vício até seus pais intervirem e proporem uma internação. O doutor apresentou dados importantes referentes ao alcoolismo no Brasil, por exemplo, que 50% dos casos de violência doméstica são causados por alcoólatras.
O alcoolismo produz demência no ser humano, além dos sintomas da abstinência, como tremedeira, sudorese, sensação de morte, delírios visuais e auditivos. “Vou contar um exemplo concreto do que é um delírio auditivo: estava andando na rua e passou uma senhora por mim muito bem vestida; eu a ouvi dizendo: ‘olha, alemão, te vi na balada ontem’. Então você toma um gole de álcool e tudo isso passa, some tudo, se sente bem e sente que a vida é boa”, lembra Paulo sobre essa fase de sua vida.
Após contar suas experiências e pontuar os efeitos que as drogas causam no ser humano, Doutor Rodrigo explicou quais são as ações que o RH das empresas deveriam tomar para enfrentar esse problema. É justo que o auxílio parta também do empresário, visando à melhoria da qualidade de vida de seu empregado, bem como à garantia de maior sucesso com seu negócio. A legislação não se manifesta claramente sobre as obrigações do empregador em relação à dependência química dos empregados no ambiente de trabalho.
Segundo pesquisa feita pelo INSS, a cada três horas um funcionário é afastado para tratar a dependência, além do crescimento no número de dependentes de álcool e outras drogas principalmente entre trabalhadores CLT. O uso de drogas e de álcool pode aumentar em cinco vezes o risco de acidente laborais, mas alguns sinais podem ser observados pela empresa para identificar quem necessita de ajuda com este problema: ausências, absenteísmo, acidentes, queda de produtividade, relacionamento interpessoal, hábitos pessoais. Ao identificar esses sinais, a pessoa deve ser encaminhada à medicina do trabalho para que o diagnóstico, acompanhamento e afastamento sejam realizados da melhor maneira possível para ambas as partes.
Cabe à área de RH da empresa levar informações de qualidade até os funcionários, seja por meio de palestras, seja por folders, ou outras formas de comunicação. Além da criação de uma política interna para definir regras de condução deste caso, deve-se ter sempre alguém do RH habilitado para ensinar os superiores a lidar com a situação. É importante envolver a parte jurídica da empresa para lidar com este assunto, além de determinar programas sobre triagem e tratamento dentro da empresa, programa de internações custeadas e principalmente programa de sigilo que permita às pessoas sentirem-se seguras em fazer revelações.
“Frequentemente não é na primeira vez que você vai estender a mão para um dependente químico e ele vai pegar. Isso não pode frustrar vocês, porque às vezes é necessário estender várias vezes até que ele entenda que precisa segurar na nossa mão”, com esta frase e com um vídeo motivacional que emocionou o público presente, Doutor Rodrigo finalizou sua apresentação.