Palestra interativa com o economista e jornalista foi realizada na manhã de 7 de dezembro, na sede do Sinproquim
A última edição de 2017 do Café com Opinião, evento realizado pelo Sinproquim, recebeu Luís Artur Nogueira, economista e jornalista editor da Isto É Dinheiro para uma palestra interativa criada para informar, por meio de um bate-papo mais descontraído, a atual situação econômica do país baseada nos pareceres técnicos e em todo o conhecimento e expertise do profissional.
Nogueira iniciou seu discurso apresentando uma manchete do jornal Valor Econômico que diz “PIB indica retomada consistente com investimentos”. Segundo o jornalista, esta é a grande notícia do momento, visto que demonstra que estamos, de fato, engrenando em uma melhoria contínua rumo ao desenvolvimento. “Por que isso é tão importante? Pois uma economia que cresce só com o consumo não é uma economia sustentável. A gente precisa que os investimentos voltem e isso tem tudo a ver com a indústria química”, enfatizou.
Sobre o governo Temer, que é um governo curto e que tem menos tempo para mostrar a que veio, o jornalista critica a formação política com muitos ministros investigados pela operação Lava Jato, mas elogia a posição econômica citando nomes de peso como Henrique Meirelles, ministro da Fazenda; Pedro Pullen Parente, presidente da Petrobras; Maria Silvia Bastos e Paulo Rabello de Castro, respectivamente ex-presidente e presidente do BNDES; e Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central. “Com Temer ou sem Temer, essa agenda econômica precisa prosseguir”, declara após afirmar acreditar que o atual presidente chega ao fim de seu mandato governando o país até dezembro de 2018.
Defendendo a reforma da previdência, Nogueira explica que “seremos um país de idosos, com poucos jovens. Se a reforma não for feita, assim como a Europa fez, o governo terá de inventar algum novo imposto para financiar a previdência quebrada”. Para o especialista, essa reforma é indispensável e deverá ser feita ou agora ou em 2019, independentemente de qual partido assumir o poder.
Traçando um possível cenário para as próximas eleições, Nogueira enfatiza: “não menosprezem a capacidade eleitoral de Lula e de Bolsonaro para 2018”. Além de destacar a força destes dois personagens, o economista destaca que a pior perspectiva é chegarmos a agosto com uma indefinição e uma insegurança jurídica. “Espero que até o final do primeiro semestre ou o Supremo ou o TSE digam claramente se o Lula está no jogo ou não está no jogo”, disse sobre a possibilidade do ex-presidente Lula, mesmo condenado em segunda instância, concorrer com uma liminar.
Ao falar de perspectivas futuras, Nogueira é otimista e se mostra preocupado não com o ano que vem, mas com o próximo. “Esse ano estamos caminhando para um crescimento de 1%, mas para quem caiu 7% no biênio 2015/2016, crescer 1% é ótimo. Em 2018, devemos assistir a uma elevação de 2% a 3%. Minha preocupação, de fato, é com 2019 que depende unicamente do bom senso dos candidatos”, afirmou, enfatizando que o Brasil é muito grande na América Latina e que acredita que temos um futuro promissor.
Crise histórica – Ao falar sobre o histórico do Brasil nas últimas duas décadas, Nogueira declarou não ter nenhuma preferência partidária, mas preza por uma agenda econômica que dê resultado. Na ocasião, relembrou que, no último ano do governo Lula, o país crescia mais de 7% graças a uma atuação econômica que incentivou o consumo e colocou o governo para gastar depois de criar uma poupança pública, um superávit primário. Porém, na entrada da presidente Dilma, o ideal não funcionou, pois o governo estimulou o consumo e gastou na hora errada. “As famílias ficaram endividadas, o governo quebrou e foi aí que começou a nossa crise fiscal de hoje”, declarou, pouco antes de discursar sobre o impacto da Operação Lava Jato no crescimento econômico do País.
Em resumo, sobre o período de crise que estamos vivendo nos últimos anos, Nogueira sintetizou: “a matemática da crise no Brasil passa por um governo que gastou mal e na hora errada, uma crise política somada a uma inabilidade da presidente Dilma em se relacionar com o Congresso, e a operação Lava Jato que, mesmo sendo ótima no combate à corrupção, acabou com as maiores obras do País trazendo impacto econômico”.
O peso dos EUA – Traçando uma análise mundial, visto que o Brasil é automaticamente afetado pelas mudanças e crises do globo, Nogueira demonstra preocupação com o protecionismo e o populismo de Donald Trump, explicando que este é um presidente que pode criar uma crise econômica na maior economia do mundo.
“Ao derrubar a arrecadação do governo com o generoso corte de impostos, a dívida vai aumentar, os investidores começarão a olhar o país com desconfiança, as agências de classificação derrubarão as notas. Tudo isso fará com que os investimentos migrem para lugares mais seguros como Alemanha, Suíça e China. E então temos um problema fiscal nos EUA e, se isso acontecer, o mundo inteiro entra em crise”, declarou, lembrando que vivemos uma situação similar no Brasil, durante o governo Dilma, que escolheu alguns setores para redução de impostos, o que gerou maior recessão, menor arrecadação e quebra do governo. “Não deu certo aqui, vamos ver se dará nos EUA”, disse.
Maior economia do mundo? – Por ser interativa, a palestra permitiu que o público escolhesse o direcionamento dos temas. Nogueira, então, propôs três territórios para detalhar: China, Argentina e Europa. A plateia, em sua grande maioria, preferiu ouvir sobre as colocações a respeito da China.
Nogueira esteve recentemente no país asiático integrando uma comitiva de acompanhamento do prefeito de São Paulo, João Dória. Por lá, visualizou muitas coisas na prática e afirmou que “crescendo de 6% a 7% ao ano, em cerca de quinze anos a China ultrapassará os EUA e se tornará a maior economia do mundo”. Sendo assim, lembrou como é importante que o Brasil volte a incentivar sua produção industrial a fim de transformar esse, que já é nosso principal parceiro comercial, em um grande comprador de produtos brasileiros. “Precisamos nos tornar produtivos, resolvendo gargalos de infraestrutura, de energia cara e outros pois se a China se tornar a maior economia do mundo vai comprar de tudo e de muitas outras nações”, pontuou.
O Café com Opinião é um evento realizado periodicamente pelo Sinproquim que traz grandes nomes do país para debates interessantes e pontuais sobre aspectos políticos, econômicos e empresariais. Além das palestras sempre muito bem apontadas, os participantes participam de um café da manhã para interação e troca de ideias.