Mendonça de Barros acredita que retomada do crescimento virá somente em 2020

O governo Jair Bolsonaro atingiu a marca dos 100 primeiros dias com a pior avaliação para um presidente em primeiro mandato desde a redemocratização do País. Há, porém, uma expectativa ainda positiva do grande eleitorado. Mas, infelizmente, 2019 já é um ano comprometido. A reflexão foi feita pelo economista e consultor José Roberto Mendonça de Barros durante o “Café com Opinião”, tradicional evento promovido pelo Sinproquim para a análise de grandes temas nacionais. 

Em sua apresentação, Mendonça de Barros analisou o panorama da economia internacional, contextualizou o Brasil nesse cenário, falou da situação econômica interna, que permanece grave, e da nova situação política. Segundo ele, os dados recentes sugerem um enfraquecimento da retomada do final do ano passado e início de 2019, com as pesquisas mostrando que consumidores, produtores e investidores seguem cautelosos. “A perspectiva de crescimento para este ano já está sendo revista, caindo de uma faixa entre 2,5% e 3% para 1% ou 1,5%”, afirmou. Mendonça de Barros observou que ainda pode haver crescimento em 2020 a depender dos projetos aprovados no Congresso Nacional, com destaque para a reforma da Previdência, o que é o primeiro passo para outras mudanças necessárias. 

A aprovação da Reforma da Previdência continua, segundo ele, sendo o divisor de águas do cenário econômico. Mendonça de Barros destacou, contudo, que o embate dentro do governo segue forte. “A votação da PEC da Reforma da Previdência na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) mostrou que o Executivo não controla a pauta e que a reforma passará porque os partidos assim o querem, apesar da demora”. Para ele, a questão está em quais proporções isso ocorrerá e o que virá depois. “Há a avaliação de que a reforma renderá bons frutos nas eleições municipais se o Brasil voltar a crescer de forma mais efetiva em 2020”, afirmou. Mendonça de Barros observou, entretanto, que o montante da economia a ser gerada pela reforma, prevista em mais de R$ 1,2 trilhão pelo ministro Paulo Guedes, pode após a votação na Câmara dos Deputados ficar entre R$ 600 e R$ 800 bilhões. 

Cenário internacional
Mendonça de Barros trouxe, ainda, uma avaliação a respeito da incerteza política decorrente das ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para ele, a forte mudança na política do Federal Reserve (FED) amenizou a expectativa de recessão na economia norte-americana, especialmente porque a rolagem das dívidas corporativas ficou mais fácil com a redução do spread de risco. Há incerteza política, contudo, em relação aos embates com a China. “Esperamos que saia um acordo com poucas concessões por parte do país asiático, o que deve ser uma vitória para os chineses”, afirmou. 

Segundo Mendonça de Barros, o maior risco de recessão está na Europa. “A desaceleração é generalizada globalmente. O Reino Unido, por exemplo, vinha crescendo pouco, mas com o Brexit a situação ficará pior”, afirmou, comparando o período de 1995 a 2007 com o de 2007 a 2016, com alta queda na relação PIB/hora trabalhada. Ele citou ainda a redução na atividade econômica da Alemanha e a recessão na Turquia, com o país tomando dólares emprestados para aumentar reservas. 

Na análise que fez da situação da América do Sul, Mendonça de Barros citou o caso da Argentina como emblemático. “Algumas medidas do governo Maurício Macri como o congelamento de preços de cerca de 60 produtos básicos e a contenção do reajuste das tarifas dos serviços públicos a fim de frear a inflação, que acumula aumento de 54,7% nos últimos 12 meses, é um filme que já vimos. Dificilmente, vai dar certo”, destacou.

 O presidente do Sinproquim, Nelson Pereira dos Reis, no encerramento do “Café com Opinião”, ressaltou que José Roberto Mendonça de Barros é uma pessoa muito criteriosa e responsável, sem paixões em suas análises e, por isso, sempre será convidado para analisar momentos graves como esse. Para Reis, se os brasileiros não começarem a arrumar a casa, não adiantará falar em educação, saúde e infraestrutura, pois não haverá recursos para investimentos.