O momento oportuno

Você, que é empresário, sócio, empreendedor, diretor, conselheiro ou gerente, como se enquadra em relação ao Compliance? Você é dos que acreditam que um programa de Compliance evitaria conflitos ou é daqueles que acham que isso atrapalharia a operação da sua empresa? Ou você somente implantaria um programa de Compliance no momento em que sentisse haver uma efetiva ameaça de prisão?

Este é sempre um dilema para todo tomador de decisão. Qual é o momento oportuno para investir tempo ou dinheiro em alguma iniciativa. Na maioria das vezes, esse investimento está sempre vinculado ao incremento do lucro: marketing, marketing digital, internet, assessoria de imprensa, vendas, vendas indiretas, força de vendas, project management etc. Quando falamos de Compliance, o investimento é diferente, já que está dirigido especificamente à prevenção de riscos.

Qual seria o momento oportuno para implantar um programa de Compliance?

Na minha percepção, o momento propício vai ser quando o tomador de decisão ou algum colaborador não conseguir dormir tranquilamente. É claro, porém, que o fato de não dormir bem poderia ser atribuído a outros fatores. Nesse sentido, elaborei algumas questões pontuais que ajudarão o tomador de decisão a ver se o momento de implantar um programa de Compliance na empresa chegou.

  • Além das regulações fiscais, existe outro tipo de obrigação regulatória a ser seguida?
  • A sua empresa está em processo de contratação de colaboradores, seja pela CLT ou como terceirizados?
  • A sua empresa já teve conflitos internos entre colaboradores?
  • Existem tomadas de decisões que saem das mãos dos dirigentes das empresas?
  • Qualquer tipo de falha dentro da empresa poderia gerar exposição na boa imagem frente aos clientes ou terceiros?
  • Se um fornecedor, parceiro comercial ou cliente realizar algo antiético ou ilícito isso poderia gerar exposição negativa da sua empresa?
  • A informação tratada na empresa é de caráter confidencial?
  • A empresa captura dados pessoais?
  • A empresa já teve alguma advertência ou multa por parte de uma entidade reguladora?

Se a resposta a alguma dessas questões foi positiva é hora de pensar em implementar um programa de Compliance na sua empresa. Mas é claro que não é fácil essa mudança. Eu, como empreendedor, entendo quanto é difícil chegar no final do mês e cumprir com todos os compromissos em aberto. Contudo, não é necessário começar com um programa de Compliance com o nível de complexidade de grandes instituições bancárias. Minha sugestão é começar com algo prático, como uma avaliação de risco e ir aumentando progressivamente, conforme o nível de exposição.

Como começar?

  • Avalie o risco da empresa – Quando entrevisto colaboradores e escuto que não existem riscos, assumo que algo errado está acontecendo internamente. Toda empresa está exposta a riscos, ainda que de forma mínima. Crie um mapeamento de riscos e classifique quais deles são prioritários. Faça um cheklist de tarefas e vá resolvendo cada uma delas. Não fique estagnado com uma tarefa difícil, ataque imediatamente aquelas mais fáceis de resolver.
  • “Business as usual” – Este termo em inglês significa dar continuidade ao negócio. A não ser que seja uma ilicitude, um programa de Compliance não pode engessar a operação da empresa. A sugestão é manter a continuidade da empresa e avaliar o que poderia ser adaptado na operação para mitigar o risco.
  • Comece simples e depois incremente aos poucos – Vivenciei situações em que a liderança decidiu optar pela implementação de um programa de Compliance tão complexo como a engenharia de um foguete da NASA. Sempre existe uma pessoa paranoica que quer implantar controles complexos e, ao final, não consegue concluir nada. Na minha visão, é muito melhor fazer uma coisa bem do que 50 coisas de forma medíocre. Crie um checklist e defina uma rotina de controles. Não revise todas as atividades da empresa, pegue uma amostra conforme a capacidade da pessoa responsável.
  • Peça ajuda – No momento em que houver dúvida, sempre é bom contatar pessoas especializadas no assunto. Uma dica importante: lembre-se que a palavra “compliance” significa conformidade. Se uma pessoa é especialista em conformidade, é fundamental perguntar: conformidade em quê? Se ela não souber como responder, não é a pessoa apropriada. Estar em conformidade poderia se referir a vários assuntos, como fiscal, anticorrupção, trabalhista, prevenção à lavagem de dinheiro e proteção de dados pessoais, entre outros. Seja precavido ao buscar um consultor de Compliance que entenda de negócio e de risco.

Caso você tenha dúvida em como dar o chute inicial, um bom caminho é consultar empresas que trabalham no mesmo segmento ou entidades como o Sinproquim, que organiza eventos e tem comissões em diferentes áreas. Muitos empresários participam e conversam nesses eventos e nas comissões sobre vários assuntos, incluindo a devida implantação de um programa de Compliance. Se você tem dúvidas ou precisa de feedback sobre esse tema, participe dos encontros da Comissão de Compliance do Sinproquim.

 

Juan Musso é consultor e diretor da Comp9