Os debates e repercussões do projeto de lei que propunha a distribuição gratuita de absorventes para estudantes e mulheres de baixa renda, aprovado pelo Senado, mas vetado pelo presidente Jair Bolsonaro, serviram de exemplo para Juan Musso, consultor e diretor da Comp9, traçar um paralelo com as práticas de governança, tema que encerrou, no dia 29 de outubro, a ESG Week. O webinar, promovido pelo Sinproquim, analisou o tripé do ESG (meio ambiente, social e governança) e como essas práticas têm influenciado investidores, financiadores e empresas.
Musso observou que, no debate sobre a distribuição de absorventes, muitos questionaram se não seria melhor garantir que as escolas tivessem água ou materiais didáticos para os estudantes. “Não tiro o mérito da iniciativa, mas é importante fazer a seguinte pergunta, caso se tratasse de uma empresa: os acionistas aprovariam a distribuição gratuita de absorventes?”. Outra questão importante, segundo ele, é buscar identificar se o consumidor está disposto a pagar mais por um produto sustentável, antes de realizar um investimento. Musso ressaltou, contudo, que ações sem sustentabilidade não são mais aceitáveis, mas alertou: “Para ter ESG é preciso antes ter um programa de compliance para verificar se a organização está efetivamente atendendo a legislação, criar um grupo multitarefa e ouvir desde o chão de fábrica até os altos executivos. É necessário ter muita cautela com custos”, afirmou.
Os desafios da governança corporativa foram detalhados por Wilson Olivieri, sócio da WVO Consulting e investidor anjo. Olivieri destacou que a governança corporativa, entendida como o conjunto de regulamentos, processos, ideias e costumes de uma empresa, traz vários benefícios, como a redução de conflitos de gestão, minimização de erros e maior facilidade de acesso a recursos financeiros. “A implantação de uma governança corporativa pode sim aumentar custos, elevar a burocracia e reduzir a agilidade decisória, mas o ganho é a valorização da empresa e do negócio, além de atrair investidores”, ressaltou. Segundo ele, a governança corporativa é uma necessidade e traz retorno rápido, inclusive para pequenas e médias empresas, podendo ser implementada em níveis. Ele recomendou, como primeiros passos, a criação de um conselho para atuar no âmbito da estratégia da empresa, bem como a definição da missão, visão e valores. Olivieri sugeriu ainda às empresas interessadas no tema a participarem dos cursos e eventos organizados pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBCG).
Investimentos em ESG
O valor crescente dos recursos direcionados para investimentos em projetos ESG, que já superam os US$ 60 bilhões até 2026, foi destacado por Rudolf Rosas, consultor em investimentos da Flunger&Company. Segundo ele, a oferta de recursos para ESG tem crescido, em média, 13% ao ano nos Estados Unidos. “No Brasil, um investidor anunciou a aplicação R$ 100 milhões em fundos de investimento para empresas brasileiras com boas práticas de ESG e outras gestoras já anunciaram fundos ESG. A própria B3 tem índices ligados à sustentabilidade e à governança”, ressaltou.
Rosas relacionou como assuntos-chave em ESG para o processo de seleção de empresas por investidores o meio ambiente, a descarbonização, a utilização de matérias-primas e fontes de energia renováveis, bem como de programas de compliance. “As práticas não aceitáveis são, principalmente, a corrupção e a violação dos direitos humanos. Nenhum investidor que associar seu nome a um projeto ou a uma empresa que traga riscos à sua imagem e reputação”, alertou. Ele recomendou que as empresas publiquem relatórios de sustentabilidade, buscando a comunicação com os diversos públicos (stakeholders), mas pediu atenção para evitar o risco de greenwashing (termo inglês para estratégias de propaganda enganosa ou maquiagem verde). “Essa prática é rapidamente denunciada e pode trazer sérios prejuízos. Há, inclusive, uma agência internacional que estabelece o ranking das empresas com ESG”, afirmou. Na avaliação de Rosas, o ESG gera resultados, ajudando inclusive a atrair e reter talentos da nova geração, desde que esteja efetivamente alinhado com os objetivos e necessidades da empresa.