Público questiona William Waack sobre situação do Brasil

Após a apresentação do jornalista, o público presente levantou questões sobre uma nova política, impostos sobre movimentação financeira e o papel da população no cenário político

O Café com Opinião promove uma boa interação entre palestrante e público presente. Nesta quarta-feira (28), após a apresentação do jornalista William Waack sobre as perspectivas para o governo de Jair Bolsonaro, o público participante do evento pôde questioná-lo a respeito de assuntos mais específicos que atendiam às curiosidades pontuais.

Bastante ativa, a plateia permaneceu por cerca de uma hora em uma proveitosa troca de conhecimentos com o palestrante e com o presidente do Sinproquim, Nelson Pereira dos Reis, que foi o mediador do encontro.

Abrindo a sessão de perguntas e respostas, Reis aproveitou a oportunidade para questionar como Waack acredita que o presidente eleito reagirá à pressão da sociedade por soluções. “Minha sensação é a de que a urgência pela solução dos problemas é muito grande. As pessoas estão impacientes, querendo resultados imediatos. De todos os temas da campanha, dois se destacam: desemprego e segurança. Como acredita que Bolsonaro irá lidar com essas prioridades? Tenho a impressão de que o tempo de resposta será muito curto”, perguntou.

Para o jornalista, que acredita que Bolsonaro herdará um governo melhor do que o herdado pelo atual presidente Michel Temer, são dois os caminhos que podem ser traçados por Bolsonaro. “Se ele conseguir uma simplificação tributária – considerando que mexer em tributos pode afundar o caixa de governadores que já estão sufocados –, começa a resolver a questão do desemprego. Já a questão da segurança pública é mais abrangente e está diretamente vinculada à nossa complacência. O que não podemos é cair no engodo de que o Ministro da Justiça, sozinho, resolverá o entrave da segurança pública. Para isso será necessário muito mais do que o [Sérgio] Moro, será preciso muita articulação”, respondeu.

Reforma da Previdência – Questionado sobre o andamento da reforma da Previdência e se há, no congresso, pessoas contra esse movimento, Waack disse: “Será que o agente político tem percepção do buraco em que estamos? Pois há quem negue a necessidade da reforma da Previdência. Porém começo a perceber a avenida se abrindo e o agente político tomando conhecimento do tamanho desse problema. O que não significa que os vejo tomando ações para resolvê-lo dentro do prazo que precisamos. Economistas, no geral, acham que os fatos se impõem e dão pouca margem à capacidade de entes políticos tomarem decisões estúpidas. São fetichistas da realidade e ignoram que uma parte essencial da realidade é a estupidez humana. Há a possibilidade de evitarmos decisões estúpidas, mas não é inevitável que a gente as evite”.

Brasil é a nova Grécia? – “A Grécia tinha a Alemanha auxiliando”, foi o que respondeu William Waack quando a plateia questionou se o Brasil está no mesmo caminho da Grécia. Para o jornalista, o problema da Grécia é resolvido pela moeda comum, mas também pela mentalidade alemã que usa a mesma palavra para denominar culpa e dívida. “A ideia de que eu me endivido é a ideia de que eu me torno culpado. Um político alemão, diante de um país endividado por culpa própria, terá de impor um sacrifício ao seu cidadão para salvar os gregos. No caso do Brasil não tem ninguém nos obrigando a fazer isso, apenas o nosso fracasso de não sair da estagnação em que estamos. O problema é que estamos presos na armadilha da renda média. É isso que eu chamo de fracasso.”

A volta da inflação – Afirmando que, para financiar a crise, o país emitirá dívidas e, como consequência, subirá os juros e a inflação, Waack comentou: “A percepção de risco é volátil e muda rápido. Não é um índice fixo, ela depende de um conjunto de fatores sobretudo político. E vamos entrar em uma inflação, sim; não vejo como não entrar”.

Argentina – Mais uma vez se manifestando em um comparativo entre Brasil e outros mercados, a plateia questionou Waack sobre a Argentina e o jornalista foi direto ao afirmar que o país deve ser um espelho para o Brasil. “Macri [Maurício Macri, presidente da Argentina] vai até um certo ponto nas reformas, é manietado pela capacidade das organizações argentinas de asfixiar o Estado e a economia. Ele tem uma eleição daqui a um ano, passará por uma competição interna forte e vai, provavelmente, entrar em uma situação política complicadíssima.”

A nova política – O termo “nova política”, tão falado durante as campanhas eleitorais, também foi citado algumas vezes ao longo da sessão de perguntas e respostas com William Waack. Questionado se acredita que Bolsonaro terá êxito na implementação da nova política, o jornalista declarou que será necessária muita sabedoria. “Ou ele faz uma ampla reforma política ou terá de ter sabedoria política para negociar, pois não tem como escapar. Ele não pode confundir o ato de fazer política com o ato de conversar e estabelecer. Quanto mais rápido ele acabar com esse discurso de campanha de que não negocia com caciques, melhor. Ele confunde política com politicagem.”

Sobre o partido Novo, que ganhou força nas eleições de 2018, Waack é categórico ao afirmar que é uma ideia elogiável. “É o tipo de engajamento político que vimos acontecer em várias escalas. O que é relevante, agora, é que, se combinar os elementos do partido Novo com a mudança no centro do eleitorado e a inserção do Sérgio Moro na política, sinto um clima de otimismo.”

Imposto sobre movimentação financeira – Para Waack, não há muito espaço para a criação de um novo imposto sobre movimentação financeira. “Paulo Guedes está tentando fechar a conta de algum jeito, pois, se cresce a economia, aumenta-se a arrecadação. Ele tem uma cabeça de investidor, de mercado. Acredito que o melhor caminho está em simplificar tributos.”

Papel do cidadão na política – Relembrando dois momentos de sua trajetória como jornalista, o primeiro na cobertura da revolução do Irã no final da década de 1970 e o segundo durante a queda do Muro de Berlim, Waack comentou que esse tipo de movimento sempre identifica um adversário e um ponto de convergência. “No Brasil, conseguimos, nessa eleição, derrubar o sistema e mostrar que o poder de voto é capaz de acabar com o que a população identifica como prejudicial. E é assim que o jogo começa.”

Essa possibilidade de bate-papo entre o palestrante e o público presente é um dos destaques do Café com Opinião, evento promovido periodicamente pelo Sinproquim para trazer, aos seus associados, os temas mais relevantes e impactantes debatidos por grandes nomes do cenário nacional.