A identificação da situação, gargalos e problemas nas cadeias produtivas, o aproveitamento do potencial do País em química verde, a necessidade de criação de uma estrutura ágil no governo federal, em nível ministerial, voltada especificamente à defesa do setor industrial, a fragilidade econômica gerada pela crescente dependência externa de matérias-primas e produtos químicos, a importância estratégica da indústria química e a elaboração de um plano de ação que possibilite ao País reverter a atual trajetória foram algumas das conclusões do encontro que reuniu os presidentes dos sindicatos da indústria química dos estados da Bahia (Sinpeq), Rio de Janeiro (Siquirj), Rio Grande do Sul (Sindiquim) e São Paulo (Sinproquim), que propôs o encontro. A reunião, realizada de forma virtual, ocorreu no dia 4 de maio.
Os presidentes dos sindicatos manifestaram forte preocupação com o desmonte da indústria em geral e, especificamente, da indústria química. Nelson Pereira dos Reis, presidente do Sinproquim, citou, entre outros exemplos, a questão dos fertilizantes. “Um país como o Brasil, que tem uma agricultura forte, com um importante desempenho em exportação e na economia, não pode ficar dependente da importação de fertilizantes e defensivos agrícolas. Há o risco de, no futuro, por questões geopolíticas, o País não ter fertilizantes para sustentar o crescimento da agricultura.” Reis observou que a África caminha para se tornar um grande produtor de alimentos, o que representa um novo concorrente na demanda mundial por fertilizantes e defensivos. O Brasil importa, atualmente, cerca de 80% dos fertilizantes e praticamente 100% dos defensivos usados na agricultura.
A dependência total das importações de metanol, uma importante matéria-prima para o setor químico, foi destacada por Newton Mario Battastini, presidente do Sindiquim. Ele ressaltou que o Rio Grande do Sul responde por aproximadamente 50% do total das importações brasileiras de metanol, que é produzido no Sul do Chile e passa pelo Canal do Panamá até chegar ao País, uma rota longa e que encarece o produto, embora haja disponibilidade de gás na fronteira da Argentina. Isaac Plachta, presidente do Siquirj, lembrou que o Rio de Janeiro abrigava a maior planta de produção de metanol do País, mas a fábrica foi desmontada e remontada nos Estados Unidos. “Hoje, o local é um supermercado. Quantos empregos foram e estão sendo perdidos pelo sucateamento da indústria?”, lamentou. Os presidentes dos sindicatos concordaram que o novo marco legal do gás foi um importante avanço, mas que a atração efetiva de investimentos no setor, que é de capital intensivo, depende de outras reformas, como a tributária e administrativa. O gás, por exemplo, quadruplica de preço pela incidência de tributos.
Estudo do BNDES
Anos atrás, uma equipe do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, em conjunto com a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), produziu um estudo sobre os produtos químicos considerados estratégicos para o País e cuja produção local deveria ser estimulada. A dependência externa, contudo, tem aumentado ano a ano. Em 2020, o Brasil importou US$ 41,4 bilhões em produtos químicos e registrou um déficit setorial de US$ 30,4 bilhões. Os dez produtos mais importados pelo Brasil, que representam 27% do total das compras externas, são ou têm origem química. A atualização do estudo realizado pelo BNDES será sugerida pelos sindicatos à Abiquim.
Roberto Fiamenghi, presidente do Sinpeq, reforçou a necessidade de sensibilizar o governo sobre a importância e potencial de contribuição do setor químico para o desenvolvimento do País. “A indústria química pode ganhar competitividade, mas é preciso corrigir alguns pontos, como os custos da energia. O Brasil gera 48% de energia renovável, mas em países que utilizam combustíveis fósseis a energia é mais barata do que aqui.”, observa.
Também participaram da reunião Helio Senna Camarotta, do Siquirj, Renato Endres, diretor-executivo do Sinproquim, e Enio Sperling Jaques, diretor jurídico da entidade. Os presidentes dos sindicatos vão promover um novo encontro no dia 8 de junho.