“Temos que mudar a forma como lidamos com nossos resíduos”, diz Chicko Sousa em workshop no Sinproquim

Intitulado “Gestão e redução de custos de resíduos”, evento foi realizado na manhã desta terça-feira (9) no auditório do Sindicato; Sousa é especialista no tema e apresentou a PlataformaVerde, solução por ele criada para otimizar a dinâmica do descarte

O Sinproquim recebeu, na manhã desta terça-feira (9), o especialista Chicko Sousa, fundador da PlataformaVerde, para tratar de uma temática que diz respeito a toda a indústria brasileira: gestão de resíduos. Realizado no auditório do Sindicato, o workshop promoveu a importância da sustentabilidade aliada à gestão eficiente de recursos, motivando os participantes a investirem em processos mais eficazes a fim de reduzir gastos e diminuir o impacto ambiental.

Abrindo o evento, o presidente do Sinproquim, Nelson Pereira dos Reis, apontou que a gestão de resíduos é uma boa oportunidade para a indústria que está cada vez mais engajada com a sustentabilidade. “No Sinproquim temos a preocupação de sempre trazer às empresas essa dinâmica de inovação que estamos vivendo. Para avançarmos na questão da sustentabilidade e da tecnologia, procuramos firmar parcerias que promovam boas alternativas às nossas associadas”, declarou.

Também presente no evento, o diretor-executivo do Sindicato, Ricardo Neves de Oliveira, introduziu a PlataformaVerde, solução desenvolvida por Chicko Sousa para criar a primeira rede mundial online de resíduos sólidos. “A empresa ganha, assim como o meio ambiente. Fico muito contente de ver que o Brasil procura ser um exemplo nesse contexto em que muitas empresas já têm planos e programas para abraçar essas startups repletas de ideias inovadoras que resultam em amplas melhorias de processos e dos negócios”, disse.

Chicko Sousa, que é especialista em gestão de resíduos, circular economy e short looping recycling, enfatizou em sua apresentação que é preciso mudar a cultura do resíduo para que todos nós enxerguemos melhor os processos tanto em nossas vidas pessoais quanto em nosso ambiente profissional. “Sempre tivemos uma relação de asco com os resíduos que geramos desde o nascimento. Não queremos saber que ele existe. Quando compramos um produto, estamos interessados no produto e nem pensamos no descarte de sua embalagem. Temos uma frequência altíssima de descarte e precisamos entender que esse descarte integra todo o processo”, declarou.

Pensando em burocracia e legislação, Sousa falou sobre a falta de unificação das leis brasileiras. “A nossa legislação é uma das mais malucas do mundo. Temos leis federais como a PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) e outras 27 legislações estaduais que ainda não se conversam, além de 5.500 municípios que também podem legislar sobre o tema”, comentou a respeito da incongruência da legislação, dificuldade em trabalhar sob essas regras e como o contexto legal tornou-se problema, em vez de solução.

Tratando especificamente do setor químico, o engenheiro mencionou que a indústria enxerga o resíduo a princípio como custo. “O profissional da área de gerenciamento de resíduos acaba tendo de assumir outras funções para não integrar apenas o time ‘dos custos’. E essa falta de valor profissional é inacreditável, pois se pensamos em custo podemos pensar em oportunidade atrelada a esse custo”, menciona lembrando à indústria paulista que em São Paulo há muito mais oportunidades positivas para tratar os resíduos do que em outras regiões do país.

“Logisticamente a cidade de São Paulo é a melhor para trabalhar com resíduos, pois há alto volume consolidado em um único ponto. Quando chegamos a cidades do Norte ou do Nordeste, enfrentamos um problema, pois a geração de resíduos continua ocorrendo, mas os processos de destinação estão sempre sujeitos a sabotagem. Em um país continental como o Brasil, o resíduo não é um problema ambiental, é um problema logístico. É a logística que impede ou facilita a recuperação da condição financeira”, complementou.

No Brasil, segundo Sousa, o custo logístico da coleta – sem envolver o processo e o tratamento – do resíduo realizada em Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro é de R$ 4,95 o quilo. E a resina resultante dessa reciclagem é vendida a R$ 2,90. “Ou seja, o custo logístico é superior ao valor de venda do material”, destacou.

Como funciona a PlataformaVerde – “Desenvolvemos uma plataforma para rastrear completamente todo o processo dentro da indústria, do início à destinação final do material”, explicou Sousa enfatizando que a startup foi convidada para participar de grupos de trabalho mundiais como, por exemplo, o ASap – que estuda e determinará os indicadores a serem alcançados em 2030 para aceleração de uma produção mais limpa na Indústria 4.0, em Davos, na Suíça.

Por meio de machine learning, tornou-se possível reunir todas as informações que seriam controladas eletronicamente. “O que fizemos, então, foi integrar todas as informações de fiscalização com as informações de educação, certificando e controlando as licenças de todos os envolvidos na cadeia de resíduos”, pontuou.

Apresentando um case de sucesso, Sousa falou sobre a parceria com a Renault. “Com o sistema da plataforma, a marca utilizou os indicadores gerados para aliviar todo seu resíduo diretamente para os escoadouros e, só nessa “brincadeira”, a empresa aumentou seu resultado em R$ 4 milhões”, disse.

Sousa também abordou, em sua palestra no Sinproquim, questões sociais e ambientais da gestão de resíduos, como o fato de que mais de 1 milhão de pessoas vivem, de forma direta ou indireta, da coleta seletiva. Reforçou, também, que a geração de resíduos vem aumentando ano a ano. “Há dez anos cada brasileiro gerava 850 gramas por dia. Hoje geramos em média 1,05 quilo. Em São Paulo a média de geração de resíduos é de 1,2 quilo por pessoa”, finalizou.