Os conceitos e práticas do ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) estão sendo cada vez mais aplicados – e exigidos de fornecedores e prestadores de serviços –por empresas e instituições em todo o mundo, além de integrarem, de forma crescente, os processos de avaliação de investidores e financiadores. Os três pilares do ESG foram o tema do webinar ESG Week promovido pelo Sinproquim na última semana de outubro.
Na abertura do evento, o presidente do Sinproquim, Nelson Pereira dos Reis, destacou os aspectos positivos e transformadores do ESG na cultura empresarial, bem como o protagonismo do setor privado na aplicação dos conceitos de sustentabilidade, responsabilidade social e governança. “Acionistas e gestores estão cientes de que as questões ESG podem ter impacto, tanto positivo como negativo, no valor das empresas”, ressaltou. Ele observou que uma das prioridades do Sinproquim é dar apoio às pequenas e médias empresas, por meio da difusão de informações e dados, para a implementação das práticas de ESG.
Social
O pilar Social foi o tema do primeiro dia do ESG Week, que começou em 25 de outubro. Katia Almeida, gerente de Recursos Humanos da Construtora Passarelli, detalhou como a empresa construiu uma cultura participativa, com valores e competências bem definidas, buscando a criação de um ambiente em que as pessoas se sintam felizes, com a transformação do ambiente por meio de ações da liderança. A mudança, planejada, teve como resultado a conquista do selo GPTW (Great Place to Work), consultoria global que publica um ranking com as melhores empresas para se trabalhar.
A importância da incorporação do bem-estar financeiro dos colaboradores na cultura organizacional foi destacada por Marco Ferelli, fundador e diretor comercial da Allya Serviços, rede de benefícios que oferece descontos aos colaboradores em vários estabelecimentos. Dados de pesquisas apresentados por Ferelli mostram que apenas 15% das pessoas conseguem poupar, que 74% das famílias estão endividadas e que 59% apontam questões financeiras como fator de estresse. “Os problemas financeiros impactam todas as dimensões do bem-estar, o intelectual, emocional, físico e social, o que afeta negativamente o desempenho profissional”, ressaltou. Segundo ele, as empresas podem ajudar incentivando hábitos de bem-estar financeiro, divulgando informações e dicas sobre conscientização de gastos. “Um clima positivo ajuda na retenção de talentos, reduzindo custos com recontratação”, afirmou. Ferelli ressaltou também que a nova geração de profissionais quer mais participação das empresas em questões sociais, ambientais e de governança.
A convergência geracional e inclusão de gênero como potencial de negócio e aumento de lucratividade foi o tema da apresentação de Eunice Vitiello, da Imprenditore Gestão Empresarial. Ela destacou que empresas com diversidade de gênero no time executivo obtêm, em média, lucros 21% maiores do que as demais, porcentual que sobe para 33% entre as que valorizam a diversidade racial. Dados do Guia Exame da Diversidade revelaram que, para 95% das 109 empresas consultadas, a diversidade gera resultados positivos para o negócio, há melhoria do clima organizacional (93%), maior retenção de talentos (87%) e aumento da produtividade (84%). A consultora observou também que o equilíbrio entre jovens e idosos na equipe favorece a condução dos negócios e que ainda há muito a avançar em termos de uma cultura empresarial inclusiva e colaborativa. “Hoje, apenas 13% das mulheres ocupam cargos de chefia”, ressaltou.
Sustentabilidade
Aberto pelo diretor jurídico do Sinproquim, Enio Sperling Jaques, o segundo dia da ESG Week, realizado em 27 de outubro, debateu questões ambientais, o segundo pilar do ESG. Bruno Gomes, gerente de Sustentabilidade do Banco Santander, destacou que a instituição dispõe de linhas de crédito específicas, com redução de taxas, para o financiamento de projetos sustentáveis, como redução de emissões e utilização de energias limpas, como a solar. Segundo ele, há uma avaliação criteriosa de projetos para evitar riscos à imagem da instituição. “Nenhum investidor ou instituição financeira quer vincular sua marca a um projeto que tenha impacto negativo no meio ambiente ou na sociedade”, destacou. O gerente do Santander afirmou que a instituição destinou R$ 27 bilhões em 2020 para projetos sustentáveis. “Os projetos a serem financiados com redução de taxas e maiores prazos devem ir além do simples atendimento à legislação regulatória”, alertou.
O fundador da ProfitCapital, José Marcos Buoro, observou que o ESG é uma evolução natural de temas que vem sendo discutidos há cerca de 40 anos, como preservação do meio ambiente, clima, sustentabilidade e energia limpa. “A aplicação do ESG é irreversível e a cobrança da sociedade em torno desses temas só tende a crescer. Quanto mais cedo as empresas despertarem para isso, mais benefícios irão obter”, afirmou. Entre esses benefícios, ele destacou o menor custo financeiro de empréstimos e o maior interesse de consumidores, sejam empresas ou pessoas físicas, por processos e produtos sustentáveis. José Marcos advertiu, porém, que as empresas devem adotar todos os cuidados possíveis para evitar o “greenwashing”, prática que pode abalar profundamente a reputação e imagem da organização. “Há vários exemplos de empresas que perderam negócios, atratividade e respeito por afirmarem que determinado processo ou produto é sustentável, quando ele, efetivamente, não é. Uma afirmação como essa requer muita certeza para evitar riscos”, ressaltou.
A aplicação do ESG pela indústria foi apresentada por Jorge Peron Mendes, gerente de Sustentabilidade da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Para ele, a pandemia de covid-19 transformou 2021 no ano da transição. “O verde é a cor da recuperação econômica”, afirmou. Peron observou que o ESG é um diferencial competitivo e que há uma percepção positiva nas relações comerciais de empresas que aplicam seus conceitos e práticas. Ele coordenou a elaboração de uma cartilha pela Firjan com orientações sobre a aplicação de ESG com base em pesquisa realizada com 64 empresas sobre as estratégias adotadas de gestão ambiental, social e de governança. A cartilha, que está disponível no site da Firjan, reúne um conjunto de práticas recomendadas e ações essenciais para nortear a atuação empresarial em cada um dos critérios ESG. A Firjan também deu início a um curso para capacitar pequenas e médias empresas a aplicarem o ESG.
Governança
O terceiro pilar do ESG, a governança, será debatido nesta sexta-feira, 29, a partir das 9h30, com a participação de Juan Musso, da Comp9, que apresentará o ABC do ESG; Wilson Olivieri, sócio da WVO Consulting, que detalhará os desafios da governança corporativa; e Rudolf Rosas, consultor em investimentos da Flinger&Company, que falará sobre a atratividade de investimentos com carimbo ESG. O evento tem início às 9h30.