Maior oferta de gás natural incentivaria a produção nacional de fertilizantes, biodiesel e petroquímica

O gás natural voltou a ser tema de análise pelo Conselho das Entidades Sindicais da Indústria Química (Cesiq). Em reunião realizada no dia 26 de abril, os conselheiros defenderam a conclusão do gasoduto Rota 3, que levaria gás natural do pré-sal da Bacia de Santos até Itaboraí, no Rio de Janeiro. O gasoduto teria capacidade para escoar aproximadamente 18 milhões de m3 de gás por dia. Faltam cerca de 200 quilômetros para a conclusão da Rota 3. O aumento da oferta do gás natural, a preços competitivos, poderia impulsionar a produção nacional de biodiesel, pelo aproveitamento do metano, de fertilizantes e de produtos petroquímicos.

A reinjeção e a queima de gás natural deveriam, na opinião do Cesiq, ser reavaliadas pelo governo. As estimativas são de que, em outros países produtores, a média de reinjeção de gás natural nos poços de petróleo gire em torno de 20%, enquanto no Brasil essa prática chega a 70%. Para os conselheiros, deveria haver uma inversão estratégica sobre a destinação do gás natural, dando-se prioridade para a indústria em vez do uso para reinjeção e termoelétricas.

O aumento da oferta de gás natural poderia viabilizar novos investimentos na indústria, principalmente na produção de fertilizantes, como a ureia. O País é hoje um importador líquido desse fertilizante, insumo essencial para o setor agrícola. Para o Cesiq, a análise sobre o tema deve ser estratégica, considerando a segurança de fornecimento para evitar que um problema de desabastecimento ou alta nos preços internacionais, como o ocasionado pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, traga dificuldades a um setor tão importante para a economia brasileira, como é o agronegócio. Na reunião, foi observado que, após o início do conflito, os preços do gás natural no mercado internacional aumentaram, mas que, ao longo do tempo, voltaram a ficar próximos dos patamares anteriores, o que não aconteceu no País.

O Cesiq espera que federações de indústrias e outras entidades, como o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), se mobilizem para gerar um novo estudo com a elaboração de propostas para um melhor aproveitamento, ainda que em parte, das frações de etano e metanol presentes no gás natural. Segundo o Conselho, o aumento da oferta e o equacionamento do preço do gás viabilizariam a concretização de vários projetos que estão na gaveta de investidores internacionais.

Cenário

A crescente queda na utilização da capacidade instalada da indústria química no País, que está abaixo dos 70%, e o aumento do custo para a renovação de seguros pelas empresas são motivos de forte preocupação do Cesiq. Há, no entanto, uma expectativa positiva em relação ao lançamento pelo BNDES de um programa de financiamento para a indústria nos moldes do Plano Safra.

O Conselho das Entidades Sindicais da Indústria Química é constituído pelo Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos para Fins Industriais, Petroquímicas e Resinas Sintéticas de Camaçari, Candeias e Dias D’Ávila (Sinpeq), Sindicato da Indústria de Produtos Químicos para Fins Industriais do Estado do Rio de Janeiro (Siquirj), Sindicato das Indústrias Químicas no Estado do Rio Grande do Sul (Sindiquim) e Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos para Fins Industriais e da Petroquímica do Estado de São Paulo (Sinproquim). Em conjunto, essas entidades representam cerca de 70% da indústria química brasileira.