“A produção brasileira de gás natural vai crescer muito nos próximos dois anos e esta é uma oportunidade que não pode ser perdida pela indústria”. A previsão é do economista e consultor José Roberto Mendonça de Barros, que analisou em evento realizado pelo Sinproquim, no dia 12 de abril, as perspectivas para o País e para a indústria brasileira. Mendonça de Barros ressaltou que a forte elevação da produção de energia elétrica no Nordeste a partir de fontes renováveis cria condições para utilizar as hidroelétricas da região como uma grande bateria. “Com isso, o projeto das térmicas jabuti no Norte e no Nordeste perde totalmente o sentido”, afirmou.
Na visão de Mendonça de Barros, a indústria química tem três grandes oportunidades pela frente: ampliar a fabricação de produtos renováveis, como bioprodutos, compósitos e hidrogênio verde; avançar na descarbonização e substituir matérias-primas e fonte energética a favor do gás. “Isso abre a possibilidade de o setor químico se tornar um grande fornecedor mundial, com preços competitivos”, destacou.
A alta da inflação mundial e o aumento das taxas de juro, decorrentes de fatores atípicos, como a pandemia de Covid-19 e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, além da disputa geopolítica entre a China e os Estados Unidos, o que já está influenciando a economia mundial, tornam, segundo ele, o cenário internacional muito complexo. Mendonça de Barros projeta uma redução lenta na inflação dos países ricos e uma queda no PIB menor do que a esperada inicialmente. “Nos Estados Unidos, se houver alguma recessão, ela será modesta e na Europa o clima ameno facilitou a travessia do inverno, com o colapso dos preços do gás natural. O PIB vai sofrer, mas talvez a recessão não seja muito grande”, afirmou. Ele ressaltou, contudo, que não espera uma recuperação forte da economia chinesa, o que deverá levar a um enfraquecimento das commodities. “Está aumentando, contudo, a probabilidade de uma ampliação significativa do protecionismo, o que é ruim para o Brasil”, alertou.
Inflação e PIB
A previsão de aumento do PIB brasileiro é de apenas 1% este ano e de um crescimento ainda modesto em 2024. “O que está em jogo é o crescimento de 2025, que poderá chegar a 2,5%”. Mas, segundo ele, não será uma tarefa fácil garantir um crescimento sustentável, principalmente pelas restrições ao crédito e patamar das taxas de juro. Mendonça de Barros observa, no entanto, que se a nova regra fiscal for bem aceita e a política de confrontação for substituída por algo mais construtivo, há a possibilidade de uma sinalização de baixa de juros pelo Banco Central.
Para o economista, o viés de baixa da inflação decorrente da boa safra, do dólar abaixo de R$ 5,00, da redução no custo de materiais importados e de preços internacionais acomodados poderá reforçar uma razoável melhora nos investimentos, sinalizando um crescimento melhor em 2024. “Se adicionarmos a aprovação da reforma tributária, é possível vermos uma boa chance de retomada do crescimento”, ressaltou.
Café com Opinião
A apresentação de Mendonça de Barros marcou a volta do “Café com Opinião”, tradicional evento do Sinproquim que estava suspenso desde 2019 em virtude da pandemia. Realizado de forma híbrida, o Café com Opinião contou com a participação presencial de 65 profissionais. Mais de 40 pessoas acompanharam o evento pela internet.
Ao abrir o evento, o presidente do Sinproquim, Nelson Pereira dos Reis, destacou que mesmo durante a restrição causada pela pandemia a entidade não parou com suas atividades. “Ocorreram importantes negociações com os sindicatos dos trabalhadores, visando adaptações à nova situação. Também avançamos no campo da logística reversa de óleos lubrificantes usados ou contaminados, culminando com a assinatura, em conjunto com outras entidades do setor, do termo de compromisso com a Cetesb, e nas ações referentes à extensão da validade de produtos químicos de uso industrial, além da manutenção do fluxo de informações para as associadas”.