A elevação de um ponto percentual da taxa básica de juros, a Selic, anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, não seria necessária para controlar a inflação, avalia a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A entidade destaca que a decisão prejudicará o ritmo de crescimento da economia. A Selic passou de 13,25% para 14,25% – maior patamar desde 2016.
O aperto monetário em curso, destaca a CNI, já se traduz em aumento efetivo da taxa de juros dos tomadores de crédito. Em setembro de 2024, quando o Copom começou a aumentar a Selic, a taxa de juros média era de 27,54% a.a. Em janeiro de 2025, passou para 29,82% a.a. Na avaliação da entidade, a perda de fôlego econômico já influencia as expectativas em torno da inflação. De acordo com a pesquisa Focus, do Banco Central, a inflação esperada para os próximos 12 meses passou de 5,49%, na mediana apurada em 28 de fevereiro, para 5,23%, na mediana apurada em 14 de março. O ponto central da mudança foi o PIB do último trimestre de 2024, que cresceu bem abaixo do esperado.
Juros mais altos significam crédito mais caro para empresas e consumidores. No caso das empresas, inviabilizam investimentos e dificultam o acesso a recursos de capital de giro essenciais para as necessidades do dia a dia. Com isso, as empresas crescem menos e criam menos empregos, prejudicando a população. No caso dos consumidores, os juros altos encarecem o custo de aquisição de muitos bens, sobretudo os duráveis de maior valor, como automóveis e eletrodomésticos, por exemplo, que costumam depender de financiamento. A CNI observa ainda que a desaceleração da atividade econômica tende a ser potencializada pelo menor ritmo de expansão da política fiscal e pela desaceleração do mercado de trabalho em 2025.
Para a CNI, os primeiros dados de 2025 não são animadores. Após cair por três meses consecutivos, entre outubro e dezembro de 2024, período em que acumulou queda de 1,2%, a produção industrial se estagnou em janeiro de 2025, frente a dezembro de 2024. O volume de serviços, por sua vez, recuou 0,2%, na mesma base de comparação, sendo a terceira queda mensal consecutiva. Já as vendas do comércio varejista restrito – que desconsidera as vendas de automóveis e materiais de construção – apresentou queda de 0,1%, também na passagem entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano, marcando o terceiro mês seguido de retração. Esses dados do PIB, indústria, comércio e serviços evidenciam a forte desaceleração que está em curso na economia brasileira.
Outros fatores vão contribuir para a redução da inflação e, por isso, não poderiam ter sido desconsiderados pelo Banco Central em sua decisão, avalia a CNI. Um deles seria a valorização cambial. O dólar, que fechou 2024 a R$ 6,19, passou a R$ 5,68, em 18 de março de 2025. O segundo é a queda no preço do petróleo, cujo preço do barril Brent passou de US$ 85, em outubro de 2024, para aproximadamente US$ 70, em março de 2025. Essa diminuição no preço internacional da commodity ajuda a reduzir a pressão sobre o preço da gasolina e do diesel e beneficia o controle da inflação.
A CNI pontua que, embora o cenário seja de desaceleração da economia e, dessa forma, de queda da inflação nos próximos meses, é preciso ir além e assegurar que a política fiscal contribua mais para o controle inflacionário, de modo que seja alcançado com taxa de juros mais baixos. A entidade afirma que é preciso aprofundar medidas que busquem conter os gastos públicos, tanto para garantir o cumprimento da meta de resultado primário, neste e nos próximos anos, como para estabilizar a dívida pública. O menor ritmo de crescimento das despesas, com o consequente fortalecimento da sustentabilidade fiscal, cumpre papel essencial no controle da inflação, seja via contenção da demanda, seja via apreciação do real.
Para a CNI, além de reforçar as medidas de equilíbrio fiscal, o Banco Central deve trabalhar para conter a demanda e, consequentemente, desacelerar a inflação, a partir do aumento dos depósitos compulsórios – atualmente, com alíquota de 21% para recursos à vista; 20% para recursos a prazo; e 20% para recursos de depósitos de poupança. Na avaliação da entidade, essa ação, que restringe a demanda por meio da redução da liquidez na economia, é mais vantajosa do que o mecanismo de política monetária contracionista via aumento da Selic, uma vez que, diferentemente dessa modalidade, não pressiona o custo com juros da dívida pública.