Levantamento realizado pela Fiesp mostra que a produção industrial caiu 0,9% entre abril e maio. Em comparação a maio de 2023, houve queda de 1,0%. O resultado veio acima da expectativa da Fiesp (-1,2%) e da mediana do mercado (-1,6%) e foi influenciado pela queda na indústria de transformação (-2,2%). A indústria extrativa registrou aumento de 2,6%. O desempenho negativo no mês refletiu, em grande parte, o desastre climático ocorrido no Rio Grande do Sul. Na variação acumulada em 12 meses, a produção industrial apresenta variação positiva de 1,3%. Nessa métrica, a indústria de transformação exibe crescimento de 0,5%. A produção da indústria extrativa, por sua vez, registra alta de 6,1% nos últimos 12 meses até maio.
Na passagem mensal para maio, a queda da atividade industrial foi disseminada nas quatro grandes categorias econômicas e em 16 dos 25 ramos industriais pesquisados. Entre os segmentos, as influências negativas mais importantes foram veículos automotores, reboques e carrocerias (-11,7%) e produtos alimentícios (-4,0%). Por outro lado, entre as nove atividades que apresentaram expansão, os destaques foram as indústrias extrativas (+2,6%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,9%).
Em relação às grandes categorias econômicas, na comparação com o mês anterior, todas apresentaram redução. As principais quedas foram registradas por bens de consumo duráveis (-5,7%) e bens de capital (-2,7%). Os setores produtores de bens intermediários (-0,8%) e de bens de consumo semi e não duráveis (-0,1%) também apresentaram queda em maio.
Cenário
No mês de maio, a indústria geral registrou a segunda queda seguida (abril: -0,8%). Na abertura do resultado, a indústria de transformação interrompeu a sequência de três meses consecutivos sem quedas, ao cair 2,2% em maio. Já a indústria extrativa voltou a crescer após cair 3,2% em abril. O carry-over da indústria geral para o ano, comparação do nível de produção atual extrapolado até dezembro de 2024 em relação a 2023, está em +1,0%.
Na avaliação por categorias de uso da indústria de transformação, apesar do resultado negativo em maio, há destaque para o processo de recuperação do grupo de bens de capital. A categoria tem sido favorecida pela melhora das condições de crédito com a queda dos juros e pela recuperação da confiança dos empresários. A categoria de bens de consumo, por sua vez, vem sendo beneficiada pela expansão da renda das famílias, turbinada pelo pagamento de precatórios, combinada com o aumento real do salário mínimo e um mercado de trabalho aquecido.
Nos próximos meses, na avaliação da Fiesp, essa dinâmica de recuperação deverá ser mantida, com a volta do crescimento para o grupo de bens de capital e de consumo. Medidas como a Depreciação Acelerada e o Programa de Mobilidade Verde e Inovação (Mover), recentemente sancionadas pelo governo, podem favorecer a renovação do parque industrial. Portanto, as categorias de bens de consumo e bens de capital tendem a contribuir para o crescimento da produção industrial em 2024.
Contudo, os efeitos positivos do processo de flexibilização da política monetária podem ser limitados devido à deterioração das expectativas em relação à taxa Selic para o final do ano. A expectativa do mercado é que não ocorram mais cortes na taxa básica de juros neste ano (encerrando 2024 em 10,5%) e que o juro terminal (em 2025) seja 9,5%. No início do ano, a expectativa era de um juro terminal de 8,5%.
Portanto, a manutenção dos juros em patamar restritivo por tempo prolongado traz risco para o ritmo de recuperação esperado para a indústria de transformação, setor mais sensível à política monetária. Adicionalmente, devido ao desastre climático ocorrido no Rio Grande do Sul, há um grau de incerteza mais elevado sobre a trajetória da produção industrial brasileira nos próximos meses, em função da imprevisibilidade quanto à velocidade de recuperação da capacidade instalada do setor industrial gaúcho. Cabe destacar que a participação do estado no PIB da Indústria de Transformação brasileira é de 8,3%. Apesar do grau de incerteza mais elevado e diante do conjunto de informações disponíveis até o momento, a Fiesp mantém a projeção de crescimento de 2,2% para a produção industrial em 2024.